Sul é Meu País faz 'Plebisul' pela separação e espera um milhão de votantes

O Sul é Meu País, movimento brasileiro, tenta ganhar força na mesma época da turbulência na Catalunha. Imagem que correu o mundo mostra policial catalão chorando e sendo aparado por cidadão (Foto: Twitter / Boris Llona)

A votação será neste sábado (7) em mais de 900 municípios em Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul

E esse tal de “O Sul é Meu País”?

O movimento, que neste sábado (7) organiza um plebiscito (não oficial) pela separação (inconstitucional) dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul do restante do país, vem de longa data: em 1992 surgiu em Laguna, e agora no seu vigésimo quinto ano, depois de longas temporadas de dispersão, pequenas confabulações e mídia escassa, está de volta.

A ideia do plebiscito não é nova. Em 1994, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) surpreendemente autorizou o plebiscito, mas então não houve acordo com o Tribunal Regional Eleitoral pelo custeamento do processo. Em outubro de 2016, um plebiscito acoteceu: 616.917 pessoas votaram, com 95,7% de votos a favor da separação (a margem foi um pouco maior no Rio Grande do Sul, naturalmente). Nada revolucionário sucedeu, mas o movimento está concentrando energias neste Plebisul (nome desta consulta de 2017) com a ideia de levar à Organização das Nações Unidas o resultado. A expectativa é que mais de um milhão de pessoas votem.

Na votação de 2016, Santa Catarina e Rio Grande Sul atingiram a meta de comparecimento colocada pelos organizadores, a de contar com o voto de 5% dos eleitores cadastrados para as eleições regulares. Em Santa Catarina, foram 272 mil votos ante 230 mil esperados. No Rio Grande do Sul, 397 mil ante 372 mil. O problema foi o Paraná, onde apenas 24 mil votos foram contabilizados. Segundo um dos mentores do movimento, não faltam paranaenses favoráveis à separação. O que teria faltado seria organização ao plebiscito aqui.

Seja como for, os números sugerem que os paranaenses são um pouco menos separatistas: em 2016, foram 11,2% votos pela não-separação, o índice mais alto entre os três estados. 

O Plebisul deste sábado deve ocorrer em cerca de 900 municípios. O movimento o Sul é Meu País tenta, naturalmente, surfar na onda do plebiscito na Catalunha, no último final de semana. 

Na prática, o plebiscito serve mais como forma de pressão, porque mesmo com todo o ar de formalidade que os organizadores tentam imprimir, não igualam uma eleição oficial. Na Catalunha, por exemplo, sobraram relatos de eleitores que votaram quatro ou cinco vezes.

Longe da Suíça

Caso fosse um país, o Sul teria cerca de 30 milhões de habitantes. Subiria 27 posições no Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH: o Brasil é o 79o e o Sul ficaria junto do Uruguai, em 52– mas ainda bem abaixo dos países que os entusiastas do movimento costumam citar. É comum dizer, por exemplo, que como um novo Estado o Sul seria “uma Suíça”, que no caso é a terceira colocada no planeta e tem bem pouco a ver com o que vivem paranaenses, catarinenses e gaúchos no cotidiano.

Um certo (ou muito) romantismo quanto à realidade e ao potencial sulistas, aliás, é parte inegável do movimento. Do índice de homicídios ao de violência em geral, da qualidade da saúde pública à mobilidade urbana, passando por dezenas de outros índices, a distância para os melhores países europeus é imensa, e colocar isso na conta do convívio com os outros estados brasileiros é uma falta de autocrítica um pouco obscena.

O argumento político do O Sul é Meu País é que o Brasil tem uma distribuição parlamentar desigual (o que é verdade), com estados do Norte chegando a ter dez vezes mais deputados por eleitor que estados do Sul.

O argumento tributário é que redistribuição dos impostos do governo federal é injusta; o econômico, que o PIB sulista representa 16% do total brasileiro e que os três estados podem constituir um país economicamente independente; finalmente, o argumento cultural se adaptou aos tempos e recuou um pouco da atmosfera velada de orgulho excessivo, agora falando que Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul compartilham uma cultura predominantemente de origem européia, mas “orgulhosamente miscigenada” à africana, à americana nativa e à asiática.

Comentários

O RIC Mais publicou post na página do portal falando sobre o tema. Os comentários variaram.

“Precisamos criar coragem…. Catalunha nossos ídolos… Vamos perseverar… Um dia frutos bons nossos filhos e netos vão colher…”, escreveu Neila Fraga. 

“Faltam só duas coisas para dar certo: lideranças, ou seja, políticos importantes da regiões que apoiem a causa, e a segundo e mais importante, adesão popular, [que] é praticamente inexistente. Boa sorte”, provocou Isarel Vieira. Já Larissa Ilaides foi mais sucinta: “Não concordo”, escreveu.

Nelson R. Alves, por fim, foi mordaz: “Não sabem nem separar o lixo e querem separar o sul do país… tô fora!!! Apesar do mau momento, o Brasil é meu país e sempre será”.

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4 out 2017, às 00h00.
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