Opinião: Lula e o fim do silêncio petista

Lula chega à Polícia Federal em Curitiba para o interrogatório de Sérgio Moro em maio (Foto: Marcelo Camargo, Agência Brasil)

Tranquilo por fora, quente por dentro: essa é a expectativa do interrogatório de Lula em Curitiba nesta quarta (13)

*Por Marc Sousa

Tranquilo por fora, quente por dentro. Essa é a expectativa do interrogatório do ex-presidente Lula nesta quarta-feira (13).

Do lado de fora do prédio da Justiça Federal, em Curitiba, a expectativa é de calmaria. As forças policiais encarregadas de garantir a segurança durante o interrogatório estimam um número de manifestantes pró e contra o ex-presidente bem inferior ao do primeiro encontro de Lula e Sérgio Moro. Coxinhas e mortadelas parecem ter perdido o entusiasmo, talvez diante de tantos processos – Lula já é réu em seis ações e vêm mais delas por aí – a militância dos dois lados percebeu que os interrogatórios vão virar coisa corriqueira. O efetivo de policias será até menor se comparado a maio, quando Lula falou sobre o triplex do Guarujá.

Já na sala de audiências do segundo andar, o clima deve ser bem diferente. Desta vez Lula senta nos bancos dos réus atormentado com um fantasma pessoal: o fim do silêncio petista.

O ex-ministro Antonio Palocci, braço direito de Lula, com 40 anos de militância política na esquerda, resolveu falar tudo o que sabia. O depoimento de duas horas do homem considerado um dos maiores estrategistas do PT foi o mais duro golpe contra o ex-presidente na Lava Jato. Nem o PowerPoint do procurador chefe da operação, Deltan Dallagnol, que mostra Lula como chefe do suposto esquema criminoso, fez tanto estrago.

Desta vez, o cardápio de perguntas de Moro deve contar com questões como o “pacto de sangue”, que Palocci disse ter sido selado entre Lula e o patriarca da família Odebrecht, Emílio, em troca de um “pacote de propinas” que incluiu imóveis e mais R$ 300 milhões em dinheiro. Em troca, o ex-presidente iria convencer Dilma Rousseff a proteger a empreiteira durante o governo dela.

Tem mais: Palocci falou que as palestras pagas pela empreiteira eram propinas, que houve a ordem para usar o Pré-sal para pagar a conta da campanha de Dilma em 2010, que teve propina em espécie – R$ 4 milhões – para bancar rombos nas contas do Instituto Lula. Tudo isso com uma riqueza de detalhes impressionante: datas, locais de reuniões, nomes, circunstâncias.

O discurso do partido – de que Palocci está mentindo para sair da cadeia por meio de um acordo de delação premiada – pode até colar para a militância apaixonada por Lula, mas o ex-presidente sabe que perante a lei as coisas são diferentes. Bravatas diante de Moro não vão resolver nada juridicamente. Palocci prometeu apresentar provas de tudo o que falou, e para o processo penal o que vale são elas.

Troca do palanque pela prisão?

Ah, Lula também vai ter que explicar as denúncias deste caso em específico: segundo o Ministério Público Federal, ele recebeu imóveis como propina da Odebrecht. Um terreno que custou R$ 12,4 milhões, onde seria instalado o Instituto que leva o nome dele, e a cobertura vizinha onde o petista mora em São Bernardo do Campo. O apartamento teria custado pouco mais de meio milhão de reais.

Depois de Palocci, a cúpula petista já começa a dar sinais de que finalmente assimilou que o discurso inflamado não vai resolver as coisas na vida real. As respostas de Lula diante das acusações de seu antigo parceiro e cúmplice serão um divisor de águas na Lava Jato. Vale lembrar que Lula já foi condenado uma vez por Moro, e na sentença o juiz já avisou “que ninguém está acima da lei”. Aliás, esse processo já está na segunda instância, e se a decisão do magistrado de Curitiba for mantida, pela primeira vez na história desse país vamos ver um ex-presidente trocar o palanque pela prisão.

Se os coxinhas e mortadelas tivessem previsto o futuro, aposto que teriam escolhido esse segundo interrogatório para concentrar suas energias em manifestações. As emoções serão mais fortes do que no primeiro.

Os números do processo 

Foram ouvidas 97 testemunhas de acusação e de defesa e 5 dos 7 réus. Lula é o sexto a falar. O compadre dele, o advogado Roberto Teixeira, passou mal e teve o depoimento adiado para o dia 20 deste mês

O que acontece depois do depoimento

Acaba a chamada fase de “instrução do processo”, Moro vai então abrir mais um prazo para que defesa e acusação peçam as últimas diligências que acharem necessárias.

Depois disso vêm as “alegações finais”, em que as partes expõem seus últimos argumentos. São 15 dias para a acusação (MPF), 5 dias para a vítima (Petrobrás) e outros 15 dias para a defesa (advogados de Lula e dos outros sete réus).

Em seguida, Moro já pode anunciar a sentença.

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12 set 2017, às 00h00.
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