Motoristas do IML confessam que recebiam propina da quadrilha do DPVAT

Durante a operação, os policiais do Nurce prenderam donos de funerárias, motoristas do IML e de empresários. (Foto: Guilherme Rivaroli)

Juiz prorrogou a prisão de quatro suspeitos, entre eles os líderes da organização criminosa. Os demais devem ser soltos no sábado, quando vence a prisão temporária

Dois motoristas do Instituto Médico-Legal (IML) do Paraná
confessaram para a polícia que receberam propina de R$ 700 a R$ 1 mil para
repassar informações privilegiadas para uma quadrilha suspeita de aplicar
golpes para obter o seguro DPVAT
(Danos Pessoais Causados por Veículos
Automotores de Vias Terrestres) e driblar o rodízio de empresas funerárias em
Curitiba. Doze pessoas desta quadrilha foram presas na última terça-feira (26)
durante a “Operação Ressurreição”, deflagrada pelo Núcleo de Repressão a Crimes
Econômicos (Nurce), que investigou a fraude. 

Em depoimento, os servidores públicos disseram que repassavam informações sobre
a localização e o contato de familiares de pessoas mortas vítimas de acidentes
de trânsito ou morte natural para os integrantes da organização criminosa. Em
troca, recebiam dinheiro. A confirmação foi feita por um motorista do IML de
Curitiba e outro de Ponta Grossa. 

O delegado-titular do Nurce, Renato Figueroa, afirmou que os líderes da
quadrilha confirmaram em depoimento que pagaram propina para servidores
públicos em troca de informações privilegiadas. O pagamento era feito mediante
o sucesso do golpe aplicado nos familiares dos mortos. “Entre os documentos
apreendidos na operação estão comprovantes bancários que revelam transferências
de dinheiro feitas pela quadrilha para as contas de parentes dos motoristas do
IML”, revelou o delegado do Nurce. “Estas pessoas poderão responder pelo crime
de lavagem de dinheiro”, completou.

Apesar de os envolvidos terem colaborado com a investigação, a Justiça
prorrogou por mais cinco dias a prisão temporária de quatro dos 12 presos:
Márcio Clovis Baldi da Silva, Tiago Alcaide Ferreira e Luciano Alis Ferreira,
apontados como líderes desta quadrilha, e também a de Gustavo Mello da Silva,
filho de Márcio. Eles ficarão detidos, a princípio, por mais cinco dias. 


O golpe

Durante as investigações, os policiais descobriram que os
integrantes desta quadrilha passavam o dia e especialmente a madrugada atrás de
corpos de vítimas de acidentes de trânsito ou morte natural, sendo que para
isso corrompiam os motoristas do IML, para que estes passassem informações
privilegiadas e em tempo real dos óbitos ocorridos na capital, região
metropolitana e em Ponta Grossa. 

De posse das informações do morto, os integrantes da quadrilha faziam contato
com os familiares para obter deles procurações para dar entrada no seguro DPVAT

– cujo valor pode chegar até R$ 13,5 mil. Uma pequena parte deste dinheiro era
repassada à família dos mortos e o restante ficava com a organização criminosa.
A alegação era de que o restante era gasto nas despesas do enterro. 

Durante a operação, os policiais do Nurce prenderam donos de funerárias,
motoristas do IML e de empresários. As pessoas detidas serão indiciadas pelos
crimes de associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, estelionato
e falsidade ideológica. 

30 abr 2016, às 00h00.
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