Em primeiro álbum solo, Mano Brown prova que os brutos também amam

Foto: Facebook Mano Brown, reprodução

Rapper se deixa levar pela nostalgia, buscando o groove de Marvin Gaye e outros sons dos bailes da juventude

É Pedro Paulo, mas pode chamar de Mano. Mano Brown. Pela primeira vez solo, um dos rostos do Racionais MC’s coloca a cara a tapa. Põe o som na pista – e o que sai das caixas de som é um resgate às festas de black music que embalavam as tardes e noites de Pedro Paulo, hoje 46 anos, na juventude. Brown colocou no mundo “Boogie Naipe”, álbum sem o Racionais, grupo que fundou as bases do rap brasileiro nos anos 1990 com a cara fechada e letras contundentes.

Com Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock, o Racionais mostrou as feridas que, muitas vezes, o Brasil não queria ver. Cantou o drama, versou a dor, bateu no racismo, na injustiça social e na mazelas transformadas pela classe média e alta em poeira a ser varrida para baixo do tapete. O rap nacional é outro, é voz ativa e forte. Os limites do rap foram para a cucuia. Novos sons rostos não tão embrutecidos, tudo é permitido.

Brown, rosto duro, também sorri. “Boogie Naipe” foi gestado ao longo de dois anos – há pelo menos dez anos ele já lidava com a ideia de lançar um trabalho solo. É, afinal, um Brown. Novo? Imaginar que seja um “novo” Brown é uma estupidez. É, talvez, o velho Brown.

Brown movido pelo amor

Ao lado de Lino Kriss, que assina a produção do álbum com o rapper também cantor, Brown preferiu olhar para o passado. Buscar no groove de Marvin Gaye e outros sons que estouravam as caixas nos bailes da juventude, com graves suingados, vocais perfeitos para serem cantados de rosto colado. Brown é movido pela nostalgia. Brown, em seu som, é movido pelo… Amor.

“Mal de Amor”, a terceira dentre as 22 músicas do álbum, escancara o que Brown também é capaz de dizer. “Quem levou a pior fui eu / Um dia fomos um só / Pensei que jogo louco é o amor / Quem ama sai perdedor.” A faixa, com a participação de Kriss e Ellen Oléria, é a primeira aventura de Brown pelo canto. Vozeirão grave atinge as notas agudas em uma transição assustadoramente natural.

Assista “Mal de Amor”

O baile de Brown é suado, de corpo no corpo, de garotas “elétricas”. Em “Mulher Elétrica”, a pista é fervida sensualmente com a descrição da personagem título. “3 da manhã, ela é só suor / Ela flerta, ela causa, ela é mó B.O.”, canta.

Com pouco mais de uma hora de festa, Brown sorri e ama, chora e sofre. Remexe suas cordas vocais ao sabor do groove, versa em tons graves com a contundência que conhecemos. Com seu baile, Brown coloca todos para dançar – inclusive as listas de melhores discos do ano.

Os brutos também amam. Sabem puxar a garota para a dançar, sabem conquistá-la com molejo nos quadris, beijos no pescoço suado e papos ao pé do ouvido. E quem diria que, neste louco 2016, os nossos corações partidos seriam acalantados por versos do feroz Mano Brown?

MANO BROWN

“Boogie Naipe”, disponível nas plataformas digitais

12 dez 2016, às 00h00.
Mostrar próximo post
Carregando